Uma Breve História da Ciência (Patricia Fara)
Fara, P. (2014). Uma Breve História da Ciência. São Paulo: Editora Fundamento. (Copyright de texto de Patricia Fara, 2009).
Tradução: Bresciani Edição de Textos e Digitação Ltda (Karin Hueck).
Esse livro conta, de um jeito diferente de outros do mesmo gênero, a História da Ciência. Em pouco mais de 400 páginas, a historiadora Patrícia Fara conta uma história, não cheia de heróis, gênios e descobertas fantásticas acontecendo quase ao acaso (como a da maçã que teria caído na cabeça de Newton ou a da banheira de Arquimedes), mas uma história social, antropológica e política da ciência.
“A ciência moderna teve origem não só no conhecimento acadêmico, mas também no comércio, nas habilidades simples e na prática da magia” (p. 134). Por exemplo, “Os óticos até então [séc. XVI] se concentravam em óculos de leitura e telescópios náuticos, mas, em resposta à demanda dos experimentadores do século 17, foram ampliados, passando a incluir telescópios astronômicos e microscópios” (pp. 163-164).
Outro exemplo, “…os naturalistas não investigavam as plantas só por curiosidade científica, mas também para encontrar maneiras de transformá-las em remédios, alimento e abrigo” (p. 191).
Ela não chega a ser uma iconoclasta, mas derruba mitos. A história da ciência de Fara passa pela Babilônia, passa pelo eurocentrismo típico, mas passa também pela China e pelo Islã.
Desconstrói a posição do alquimista de um lado e a ciência de outro: “Talvez o maior mago de todos tenha sido Isaac Newton, o filósofo naturalista e alquimista religioso que usou a linguagem grega da Geometria, em vez de empregar as mais novas técnicas matemática. O livro Principia (…) olhava para o futuro sem perder as raízes do passado” (p. 116).
Isso não significa que magia e ciência, hoje, sejam a mesma coisa. O ponto é que, o conceito do que é ciência (e o que ela não é) mudou ao longo do tempo. Inclusive a palavra “cientista” não existia até o século 18. Sua posição relativista é marcante, afirmando que “…a classificação do fato científico depende do olhar e da época” (p.53).
O livro insere o desenvolvimento da ciência na história do desenvolvimento da economia. Fara diz que a peste negra que varreu a Europa, pelo idos de 1347, favoreceu o conhecimento! Como? Escreve Fara: “Ao matar cerca de um terço da população europeia em cinco anos seu efeito imediato foi fazer os estudiosos se concentrarem na morte e na salvação, deixando de lado a atualidade e quaisquer outros temas. […] Famílias ricas se tornaram ainda mais ricas ao receberem vultuosas heranças dos parentes mortos, enquanto trabalhadores sobreviventes ficaram em posição vantajosa para negociar salários. O comércio e as viagens se intensificaram, elevando a demanda por artigos de luxo, o que levou à criação de novos instrumentos, à elaboração de melhores mapas e a viagens exploratórias mais ambiciosas. A efervescência intelectual do Renascimento teve origens materiais” (p. 105).
Algumas considerações da autora nos fazem pensar muito, como, por exemplo, “…aproveitando a liberdade intelectual, maior na corte do que no sistema acadêmico, Kepler aproximou a Astronomia da realidade” (p.141). Não sei como é na corte, mas liberdade intelectual é pouco vista no ambiente acadêmico ainda hoje!
Para finalizar, mais uma citação instigante, para dizer o mínimo: “O Iluminismo é celebrado como a Grande Era da Classificação, quando a ciência procurou entender o mundo organizando-o em categorias distintas. Mas os classificadores tinham prioridades diferentes, e jamais conseguiram chegar a um acordo quanto ao sistema perfeito. Tal como em muitos outros aspectos do conhecimento científico, o consenso era alcançado por meio de negociações; a decisão não dependia apenas do argumento mais convincente, mas também de quem tinha voz mais poderosa” (p. 195).
SUMÁRIO
Introdução
Parte 1 – Origens
- O número sete
- Babilônia
- Heróis
- Cosmos
- Vida
- Matéria
- Tecnologia
Parte 2 – Interações
- Eurocentrismo
- China
- Islã
- Conhecimento
- Europa
- Aristóteles
- Alquimia
Parte 3 – Experimentos
- Exploração
- Magia
- Astronomia
- Corpos
- Máquinas
- Instrumentos
- Gravidade
Parte 4 – Instituições
- Sociedades
- Sistemas
- Carreiras
- Indústrias
- Revoluções
- Racionalidade
- Disciplinas
Parte 5 – Leis
- Progresso
- Globalização
- Objetividade
- Deus
- Evolução
- Poder
- Tempo
Parte 6 – Invisíveis
- Vida
- Germes
- Raios
- Partículas
- Genes
- Substâncias químicas
- Incertezas
Parte 7 – Decisões
- Guerra
- Hereditariedade
- Cosmologia
- Informação
- Rivalidade
- Meio ambiente
- Futuro
Posfácio
Nascida em 15 de abril de 1948, Patricia Fara é historiadora da ciência na Universidade de Cambridge (Departamento de História e Filosofia da Ciência). Ela é graduada na Universidade de Oxford e fez seu PhD na Universidade de Londres.