O que faz um professor universitário?
por Carlos Eduardo Costa (Caê)
Não, eu não dou “só” aula. Eu trabalho também.
Muitas pessoas, alunos inclusive, não entendem a dimensão de ser um professor universitário e pesquisador em uma universidade pública. Neste post, o primeiro desse blog, vou tentar discutir um pouco sobre isso. Vou restringir minhas considerações às atividades de um docente/pesquisador em uma universidade pública – porque o regime de trabalho é diferente daquele dos colegas de uma universidade privada. Também é importante dizer que não vou discutir o fato de que, como em qualquer ramo de atividades, há profissionais e profissionais.
Sou contratado para 40 horas semanais e tenho Tempo Integral de Dedicação Exclusiva (TIDE) o que implica que não posso trabalhar em outro lugar. Posso dar aulas eventuais em algumas instituições ou prestar outros serviços eventuais e ser remunerado por isso. Não posso ter vínculo empregatício com nenhuma outra instituição ou ter outra fonte de renda por trabalho prestado sistematicamente.
Mas o que um docente faz ao longo de um semestre?
Vamos a uma pequena lista que não pretende ser completa:
- Reuniões de departamento.
- Outras reuniões administrativas (Colegiado do curso de graduação; Colegiado do curso de pós-graduação; comissões das quais o docente faça parte etc.). São várias outras reuniões ao longo do mês.
- Atividades de ensino (aulas e… preparar as aulas). Um bom professor gasta tempo preparando aulas, mesmo de um curso que já tenha dado! Há sempre o que melhorar e atualizar. Também há o tempo para corrigir as provas e os trabalhos dos alunos. Hoje em dia, está contido aqui, inclusive, trabalhos burocráticos, tais como preencher pautas eletrônicas.
- Supervisão de alunos (da graduação e da pós-graduação).
- Reuniões com o grupo de pesquisa para discussão de projetos, artigos e andamento das pesquisas.
- Elaboração de projetos para editais de fomento (para financiamento de projetos; de bolsas; de auxílio-viagem etc.). Isso inclui a confecção de relatórios.
- Fazer pesquisa (acompanhamento da coleta de dados; eventualmente a coleta de dados propriamente dita; tabulação e análise de dados etc.).
- Escrever artigos, livros e capítulos de livros; submetê-los para publicação e revisá-los.
- Revisar artigos a pedido de periódicos científicos.
- Preparar resumos para submissão de propostas para apresentar trabalhos em congressos e outros eventos científicos.
- Preparar palestras, conferências, mesas redondas a serem apresentadas nos congressos e outros eventos científicos.
- Ir a congressos e outros eventos científicos. Com altos custos financeiros e de horas de viagem e trabalho.
- Participar das bancas de qualificação e de defesa de dissertações de mestrado e teses de doutorado, na própria instituição ou em outras fora de sua cidade.
- Responder e-mails. Pode-se gastar horas nisso, se não houver planejamento e controle. Se o docente for “conectado” e não impor limites, ainda responderá muitas mensagens no Facebook e no WhatsApp.
Finalizando
Para cada atividade acima há um conjunto de leituras prévias que devem ser realizadas e que consomem muito, muito tempo (especialmente para os Itens 3, 4, 5, 6, 8, 10 e, claro, os próprios trabalhos dos itens 9 e 12). Tudo isso, consome muito mais de 40 horas semanais! Facilmente.
“Navegar é preciso. Viver não é preciso”, já dizia Fernando Pessoa.
A consequência disso – do que está implicado na frase do poeta – discutirei no próximo post.
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